segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Uma tarde cinza



Em uma tarde de quinta-feira fria e cinza – de chuva, mas também ainda de fumaça de fogueiras e de fogos de artificio que sobraram após o feriado de São João – eis que ouço um barulho! A primeira suposição era de (mais) fogos, esses que sobram e as crianças da rua soltam após o feriado, até porque a manhã inteira foi assim. Após um barulho, outro, outro e outro. Cerca de 10 tiros. Não, eu não conhecia o barulho de um tiro. Um som seco, com um eco que não dava tempo de ir até o fim, pois havia outro depois, e mais um, e mais um. Ainda fiquei em dúvida se eram, de fato, tiros.

Então olhei pela janela e vi pessoas correndo. Varandas lotadas de pessoas que pareciam assistir a um espetáculo ao ar livre. Fiquei com medo, afinal eu não sabia o que havia acontecido. Quem fez isso? Esses bandidos poderiam ainda estar por perto. Liguei para o meu namorado. Liguei para minha mãe. Ninguém sabia de nada. Após alguns minutos, uma ambulância chegou e (pela janela) vi que vários carros da polícia e reportagem já estavam no local. Achei que já era seguro descer. Foi o que fiz. Do vidro da portaria, juntamente com outros tantos curiosos, pude ver uma grande movimentação: moradores, porteiros de outros prédios, crianças descalças e até um cachorro: todos olhando alguns peritos tirarem fotos do local onde aconteceu um assassinato, aonde nesse momento só havia uma bicicleta jogada no chão da ciclovia, numa das avenidas mais movimentadas da minha cidade. Vingança? Acerto de contas? Não faço ideia. 

Lembrei que há menos de um ano, poucos metros do local aonde mataram essa pessoa, dois caras em uma moto atiraram com o objetivo de acertar um homem em uma parada de ônibus próxima. Nessa ocasião, queriam fazer um “acerto de contas”, porém esse cidadão ao perceber a movimentação correu e fugiu. Mas o tiro foi disparado e atingiu (em cheio) um trabalhador que levava pão para casa após trabalhar o dia inteiro. Esse morreu no local.  
A própria chuva levará as manchas de sangue da calçada, mas a dor da família – e de outras tantas por ai – não tem oceanos que, se despejados, leve embora. Enquanto isso, estamos todos os dias sujeitos a essa violência. Resta pedirmos dia e noite misericórdia a Deus e confiar em sua proteção.

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